domingo, 17 de maio de 2009

Convergência das mídias: benéfica ou nefasta?



Do surgimento do alfabeto, há mais de dois mil e setecentos anos -- que dissociou a escrita da imagem e expressões audiovisuais em geral --, aos tempos contemporâneos, incitada pela grande revolução da internet, a Comunicação vem passando por muitas inovações, capazes de levar o progresso aos lugares mais remotos da Terra. Mas, que sob outro prisma pode representar uma grande ameaça à humanidade.

Assim como o surgimento da televisão representou o fim da "Galáxia Gutemberg" e o início da "Galáxia McLuhan" (Castells, 1942, p. 355), -- que desviou o olhar da comunicação tipográfica, ressaltando a forma audiovisual de comunicar --, nos vemos atualmente, em um outro momento de transição: o declarado fim da Comunicação via televisão, e o ápice da Comunicação Mediada por Computadores. Passamos da condição de simples espectadores para a de "interatores". A Comunicação passa a ter mão-dupla, acabando com a "unidirecionalidade" estabelecida pela televisão, e pelos meios de comunicação de massa em geral.

A nova forma de comunicação, baseada na hipermídia, não anula as demais (como radio, a televisão e o jornal), apenas funde todos esses meios midiáticos, até então solitários, em um único meio, possibilitando à esse novo "leitor interator", um acesso hiper-textual amplo e cada vez mais democrático, à uma grande variedade de informações, por meio das chamadas "tecnologias da liberdade", condensadas no universo da internet.


Contudo, as consequências desta convergência das mídias, pode ser consideradas apocalípticas, do ponto de vista dos grandes meios de comunicação tradicionais. Financeiramente, para estes, esta concentração não é um bom negócio, pois acaba alterando a relação entre emissão e recepção, devido à mudança do perfil do receptor -- que passa ter acesso à uma grande quantidade de informações com mais comodidade e de forma cada vez mais fácil e rápida. O mundo todo passa a estar à um clic de distância. O que tem sido nefasto para a indústria midiática contemporânea. Principalmente para o jornalismo impresso, que enfrenta uma grave crise, como no caso, por exemplo, do "inferno" que vive um dos maiores jornais do mundo, o NEW YORK TIMES, que divulgou em suas páginas, segundo reportagem da revista Veja (edição de 29 de abril de 2009), balanço apontando que, o grupo, dono do jornal, teve um prejuízo de 74,5 milhões de dólares só no primeiro trimestre deste ano.

Há, também, quem declare o fim da televisão, devido à crescente queda na audiência.



Mas será que, realmente estamos acompanhando os momentos finais da era da televisão? Não serão, as emissoras, capazes de inovarem e adequarem suas programações à nova realidade, a fim de atender à esse novo público, inaugurando uma nova fase em suas atividades? E a adesão à TV DIGITAL, com o aperfeiçoamento para torná-la um meio interativo, não representa uma tentativa de frustrar estas expectativas negativas e voltar dessa luta mais forte do que nunca? Vale ressaltar que, com a chegada da televisão no cenário comunicacional, o rádio, que vivia sua era de ouro, também foi declarado um meio de comunicação findado a partir daquele grande marco, que foi a inauguração da televisão. Entretanto, apesar de ter perdido parte de seu prestígio e de sua popularidade para a TV, esse centenário veículo de comunicação se inovou e permanece ativo na sociedade até os dias de hoje, provando que tudo não passou de previsões pessimistas momescas.

É certo que, com a emergência e a evolução inevitável da hipermídia, a relação de "horário nobre" da televisão perde o sentido, pois esse "horário nobre" passa a ser o meu e o seu horário nobre, pois a qualquer hora poderemos assistir à programação desejada, e apenas aquilo que nos apraz, gerando assim, um outro grande problema para os meios de comunicação. Onde ficará a publicidade, já que o internauta tem a possibilidade de, simplesmente, deletá-la de sua programação? Estamos aqui, falando de mais alguns milhares de pessoas que, provavelmente, ficarão desempregadas.

Para os defensores dessa nova mídia, onde o leitor tem a possibilidade de interagir com o meio e não apenas receptar as informações -- no caso do jornalismo, por exemplo, que esse receptor passa a ser também produtor --, essa fusão de mídias possibilita uma maior acessibilidade às informações, cada vez mais diversificadas, lhe possibilitando a formação de uma opinião contundente a respeito do que está acontecendo ao seu redor, devido à mistura de conteúdos. Porém, no caso da atividade jornalística, a notícia acaba perdendo a credibilidade, pois não se tem controle sobre o que é divulgado na Grande Rede, desconhecendo-se, portanto, a procedência das fontes noticiosas.

O caso é que, por conta do crescimento desordenado dessa infindável rede de comunicação rápida e impessoal, a sociedade torna-se cada vez mais solitária e a realidade passa a ser cada vez mais simbólica e utópica.




Referências bibliográficas:
- CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede ; tradução: Roneide Venâncio Majer – São Paulo: Paz e terra, 1999.

- Debate entre Steven Johnson e Paul Starr - Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u551660.shtml)

- Vídeo EPIC 2015 (Disponível em: www.youtube.com)